O Relatório Promoção da Saúde e a Produção de Alimentos nas Cidades, produzido com a participação de pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo, traz a síntese dos resultados de uma análise realizada conjuntamente pelas equipes do Instituto Escolhas e da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis. Nadine Marques, pesquisadora da Cátedra da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica a importância da segurança alimentar para a promoção da saúde pública entre a população.
Segundo a especialista, a definição de promoção de saúde envolve um conceito bem mais amplo do que apenas tratamento e prevenção de doenças. Ela explica que esse termo engloba um conjunto de estratégias e políticas de ações de intervenção que buscam melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, atuando sobre uma variedade de condicionantes chamadas determinantes sociais.
Sob essa perspectiva, a pesquisadora conta que os sistemas alimentares e a segurança nutricional são parte importante da promoção da saúde, porque, além de promover maior bem-estar social, promovem uma série de benefícios no combate a doenças cardiovasculares e problemas com obesidade.
Ela conta que já são observados problemas de sobrepeso tanto na população adulta quanto na infantil e mesmo os países mais desenvolvidos estão enfrentando dificuldades para amenizar essa condição. “Então, a promoção de saúde é muito importante nessa questão de promover o bem-estar e antever os problemas, justamente para não precisar atuar no tratamento ou na cura de uma dessas doenças. O intuito da segurança alimentar e promoção da saúde é atuar realmente na prevenção, para evitar que esses problemas aconteçam”, explica.
Má nutrição
Conforme Nadine, a má nutrição causa duas condições alarmantes e que, por muitas vezes, podem ser entendidas como fatores opostos, quando, na verdade, podem estar presentes no mesmo indivíduo: a desnutrição e a obesidade. Ela conta que uma pessoa pode estar subnutrida por ter déficits de vitaminas e minerais no seu corpo em decorrência da falta de consumo de alimentos frescos e naturais, como cereais, legumes, frutas e verduras. Por outro lado, esse mesmo indivíduo, mesmo subnutrido, pode apresentar obesidade por ingerir frequentemente os chamados alimentos ultraprocessados, os quais são ricos em gorduras, açúcares, sódio e conservantes.
A especialista conta que a alimentação das pessoas é influenciada pelos ambientes alimentares, os quais são o conjunto de condições físicas, financeiras, socioculturais e políticas que vão ter influência sobre o acesso aos alimentos e sua qualidade, além das escolhas e preferências alimentares das pessoas. “Isso é observado em países em que predomina a preferência pelo consumo de produtos muito calóricos, com poucos nutrientes, ou seja, os ultraprocessados, aqueles preferidos pelas redes de fast foods. Então, hoje em dia, vemos um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados em detrimento dos alimentos frescos e naturais”, conta.
Produção alimentar
Para Nadine Marques, um dos fatores que poderiam contribuir para aumentar o consumo de alimentos saudáveis entre a população é a aproximação da produção com as grandes áreas urbanas, de modo que as etapas de processamento e logística sejam menores e, por conseguinte, os preços finais desses alimentos diminuam. Dessa maneira, conta ela, as pessoas teriam mais condições de inserir em sua dieta as frutas, legumes e verduras, bem como diminuir gradativamente o consumo dos ultraprocessados.
“Portanto, esse relatório tem sido desenvolvido com um olhar apurado sobre a produção de alimentos na cidade, tanto no sentido de garantir segurança alimentar e nutricional quanto no sentido de promover a saúde, que é o principal foco. Então foi observado que a agricultura urbana de metrópoles como São Paulo tem a capacidade de abastecer a população e combater a chamada monotonia alimentar, assim como a ingestão de ultraprocessados”, finaliza.
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