Mitigação e adaptação às mudanças climáticas estarão em discussão; evento preparatório para a COP30 será realizado na próxima terça-feira, dia 1º, na região central da capital paulista; entrada é gratuita e interessados em participar devem fazer inscrição prévia

Para jogar luz sobre as evidências científicas que atestam as alterações ambientais em curso no planeta e iniciar as discussões a respeito dos possíveis caminhos para minimizar seus efeitos sobre a sociedade contemporânea, a Unesp vai realizar na próxima terça-feira, dia 1º, em São Paulo, a primeira edição do “Encontro Unesp: Perspectivas para a COP30”, um evento preparatório para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, que será realizada em novembro em Belém.
As quatro sessões programadas para o encontro reunirá, ao todo, 18 palestrantes, que abordarão de maneira abrangente os desafios que cercam a temática. Serão discutidos os grandes projetos da área desenvolvidos no âmbito da Unesp, apresentados trabalhos focados na promoção de adaptação ou mitigação às mudanças climáticas, detalhadas publicações acadêmico-científicas voltadas à sustentabilidade e será realizado um painel específico com cientistas que devem participar mais diretamente da COP30 no final do ano.
Este será o primeiro evento organizado pelo Escritório de Sustentabilidade ligado à Reitoria da Unesp, instância recém-criada pela reitora Maysa Furlan com o objetivo de estimular ações e projetos em torno dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O encontro será realizado na Escola Paulista de Magistratura, na Consolação, região central da capital paulista. A entrada é gratuita e os interessados em participar devem efetivar a inscrição prévia pela página: https://eventos.reitoria.unesp.br/perspectivas-cop30/.
De acordo com o professor Newton La Scala Junior, responsável pelo Escritório de Sustentabilidade da Universidade, o encontro vai adotar uma abordagem transversal para discutir os impactos das mudanças climáticas sob as mais diferentes perspectivas. “As bases físicas da mudança climática são bastante compreendidas. Há muito avanço (nas pesquisas) e hoje é difícil você achar uma pessoa que conteste a realidade que estamos vivendo. Então, é importante manter os estudos e acompanhar a adaptação às mudanças climáticas e, especialmente, a mitigação. São dois aspectos extremamente importantes que estão na agenda da COP30.”, diz o docente, que fará a abertura do evento da Unesp. “As questões relacionadas às mudanças climáticas têm impacto em diversos setores (da sociedade). É por isso que a agenda do encontro da Unesp é bastante ampla.”
Professor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias do câmpus de Jaboticabal da Unesp, Newton La Scala Junior acredita que a COP30 reserva desafios, em certa medida, diferentes quando se olha para o mundo e quando se olha para o Brasil. Os embates bélicos que ganharam escala nos últimos anos na Europa e no Oriente Médio, a ascensão nos Estados Unidos do governo de Donald Trump e a anunciada saída do país detentor da maior economia do mundo do Acordo de Paris, o tratado internacional de maior alcance para limitar o aquecimento global, formaram uma sombra indesejada para a conferência.
“Quando você considera o mundo, as emissões mundiais fecharam o ano passado próximas a 60 bilhões de toneladas de CO2 equivalente. Isso está próximo de 7,5 toneladas de CO2 por habitante/ano. Como três quartos desta emissão vêm da queima de combustíveis fósseis, não há como você pensar num mundo que comece a reduzir a concentração de CO2 na atmosfera se você não diminuir drasticamente essas emissões, especialmente aquelas relacionadas com a queima de combustível fóssil. Porque não há perspectiva de você plantando ou reflorestando tirar essa quantidade emitida em 1 ano somente de CO2 da atmosfera. Você precisaria de uma área que não existe para puxar esse CO2 que vai por ano para a atmosfera”, diz o docente.
O dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O) são os principais gases de efeito estufa contribuintes para o aquecimento global. Para efeito da medição das emissões desses gases, as emissões de metano e óxido nitroso são convertidas para CO2 equivalente, resultado da multiplicação das toneladas emitidas de gases de efeito estufa pelo seu potencial de aquecimento global.
“No caso do Brasil, as emissões estão na faixa de 1,5 a 1,6 bilhão de toneladas de CO2 por ano. Boa parte disso, em alguns anos até mais do que a metade, é devido ao desmatamento. Então a realidade do Brasil é um pouco diferente. Não é que não tenhamos que nos preocupar com a redução das emissões que são resultado do uso de combustíveis fósseis, mas elas não representam tanto no nosso inventário de emissão nacional. As maiores emissões no Brasil estão relacionadas ao desmatamento. Então a nossa lição de casa é zerar o desmatamento e promover muito reflorestamento para aumentar também o sequestro (de carbono da atmosfera)”, afirma Newton La Scala Junior, que atua em estudos sobre as emissões de gases de efeito estufa na agricultura e trabalha em suas pesquisas com inventário de gases de efeito estufa em sistemas agrícolas.
Em entrevista recente ao Jornal da Unesp, o biólogo Philip Martin Fearnside, pesquisador que é um dos decanos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e estará presente em um dos painéis do encontro da Unesp na próxima semana, criticou algumas políticas em andamento no governo federal, como a reconstrução da rodovia BR 319 (Manaus-Porto Velho), que caminhariam no sentido contrário ao objetivo de zerar o desmatamento, e destacou a importância da COP30 como oportunidade para o Brasil assumir um protagonismo na articulação diplomática em torno do clima.
“Dos 300 milhões de hectares (para a agricultura), temos que aumentar a intensificação da atividade agrícola para necessitamos de menos área: produzir cada vez mais na mesma área e aumentar a produtividade”, diz Newton La Scala Junior. “E seria muito importante os produtores ajudarem a recuperar os biomas, o que muitos já fazem. Isso ajudaria no sequestro de carbono, solo e biomassa, e no balanço associado às áreas de produção agrícola”, afirma o docente da Unesp.
SERVIÇO
1º Encontro Unesp: Perspectivas para a COP30
Data e horários: 1º de abril de 2025, das 9h às 16h
Local: auditório da Escola Paulista de Magistratura – Rua da Consolação 1483, região central de São Paulo-SP
Entrada gratuita, com inscrição prévia pela página: https://eventos.reitoria.unesp.br/perspectivas-cop30/