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São Paulo / Saúde

Especialista lembra que a hiperacusia pode aparecer em qualquer idade, inclusive na primeira infância. Já a misofonia surge entre 7 e 13 anos, mas pode aparecer mais cedo. Fatores que afetam crianças incluem desenvolvimento neurológico, predisposição genética, experiências traumáticas, comorbidades (como autismo ou TDAH), fatores ambientais e sensibilidade sensorial geral

Foto: Divulgação

Tanit Sanchez (CRM-SP 69.992), otorrinolaringologista e docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explica que hiperacusia é uma hipersensibilidade a sons de volume normal ou baixo, percebidos como desconfortavelmente altos ou dolorosos. Afeta ambos os ouvidos e pode estar associada a zumbido ou perda auditiva.

Já a misofonia é uma aversão intensa a sons específicos (baixos e repetitivos), como aqueles realizados com a boca, nariz e mãos. Causa reações emocionais fortes, como raiva, ansiedade ou repulsa e não têm relação com o volume do som. São eles: sons feitos com a boca (mastigar e deglutir alimentos, mascar chiclete, tossir, pigarrear, estalar lábios, assoviar, tomar sopa); sons feitos com o nariz (respiração ruidosa ou ofegante, soar o nariz, roncar); sons feitos com as mãos e os pés (digitar, clicar caneta, usar talheres, tamborilar, mexer chaves, abrir papel de bala/pipoca, arrastar chinelo, andar de salto alto); algumas vezes, sons emitidos por animais (latidos, miados e piados) também desencadeiam essa aversão.

Segundo a médica, o diagnóstico de hiperacusia envolve história clínica, exame otológico e testes auditivos (audiometria, limiar de desconforto auditivo). Para a misofonia, realiza-se entrevista clínica, identificação de sons-gatilhos, questionários específicos e avaliação psiquiátrica. “Como ambos os problemas podem ocorrer juntos na mesma pessoa, e ainda associados a zumbido e/ou perda auditiva, também podem ser incluídos na investigação alguns exames de sangue, questionários específicos sobre severidade e exames de imagem, de acordo com a experiência do médico qualificado por ser importante fazer diagnóstico diferencial entre esses quadros”, esclarece.

Conforme Tanit, crianças em idade escolar podem sofrer mais com o problema devido à exposição constante a diversos sons e dificuldade em controlar o ambiente, resultando no menor aproveitamento escolar. Ela comenta que as orientações para professores incluem educação sobre as condições (acolhimento), adaptações ambientais (redução de ruídos), estratégias de ensino flexíveis, planos individualizados, comunicação aberta com pais e alunos, suporte emocional e uso de tecnologia assistiva quando necessário.

Dra. Tanit Ganz Sanchez
Créditos: Divulgação

Identificação do problema pelos pais

A otorrinolaringologista conta que os pais podem identificar hiperacusia observando reações como cobrir os ouvidos, evitar lugares barulhentos, medo de sons comuns ou queixas de dor nos ouvidos durante a exposição sonora. Para a misofonia, alguns sinais incluem reações intensas a sons específicos, evitar refeições em família, usar fones constantemente ou mudanças de humor repentinas. “Manter um diário de sons, comunicação aberta e consulta com profissionais são estratégias importantes”, aponta.

Tratamento

De acordo com Tanit, pode-se utilizar no tratamento para hiperacusia aconselhamento, terapia de retreinamento auditivo, terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, dispositivos sonoros. Para a misofonia, o tratamento pode incluir aconselhamento, terapia cognitivo-comportamental, terapia de exposição gradual, técnicas de relaxamento e mindfulness. “Em ambos os casos, educar o paciente e a família é crucial. Medicamentos podem ajudar em alguns casos, especialmente quando há sintomas associados como ansiedade ou depressão. A abordagem deve ser personalizada, considerando a gravidade dos sintomas e o impacto na qualidade de vida do indivíduo”, finaliza.