Por Dr. Émerson Tauyl
Diante da recente informação de que doses da vacina AstraZeneca teriam sido aplicadas fora da validade, mas uma vez nossos governantes tropeçaram na ciência, ou talvez na própria bandalhice. Dentro da minha candura de conhecimentos científicos, me curvo a pecar pelo excesso. Segundo os veículos de comunicação, cerca de 26 mil doses da vacina AstraZeneca teriam sido aplicadas fora do prazo de validade. Segundo especialistas, compromete a eficácia da proteção contra a Covid-19. As doses supostamente vencidas foram ministradas em aproximadamente 1.532 municípios. Diante do “descuido”, o pano de fundo se deu a quem teria produzido os lotes que se apresentaram vencidos. Daí afirmam que as vacinas não foram produzidas pela Fiocruz, pois, segundo levantamento, metade desses lotes veio do Instituto Serum da Índia; a outra metade, da Opas, a Organização Pan-Americana de Saúde e foram distribuídas de janeiro a março para todos os estados do país antes do vencimento. Aos desavisados de plantão, após o DataSUS realizar o cruzamento de dados, ou seja, o DataSUS identificou todas as pessoas imunizadas com um código individual, acompanhado de informações sobre idade, grupo prioritário de vacinação, data da imunização e lote da vacina recebida. Já o Sage – Sala de Apoio à Gestão Estratégica – traz a data de validade de cada lote vacinal, que registra os comprovantes de entrega dos imunizantes contra Covid-19 por estado. Com efeito, feito o cruzamento, nasceu a problemática sobre a eficácia ou não das vacinas aplicadas dos lotes vencidos. Por isso, mesmo distante da episteme, todavia, inserido dentro da minha concepção cognitiva, fico abismado com a notícia dada sobre as vacinas AstraZeneca aplicadas com a validade vencida. O assunto tratado lida com vidas, das quais 522 mil foram perdidas em razão da nefasta pandemia. Segundo muitos chefes do executivo desse nosso rincão conjuntamente com a ciência lançaram a campanha “Vacina Salva”. Pois é, a filha da ciência, vacina, existe há mais de duzentos anos. É bem verdade que o tempo imposto pela necessidade em pôr freios no avanço da Covid-19 deu ritmo acelerado à ciência. Atrelado aos interesses políticos do bate, pega, estica e puxa surgiram os vários “especialistas facebookianos”. Em meio a tantas certezas, inúmeros “especialistas” foi preciso mergulhar no passado para tentar compreender o futuro de uma vida, e, descortinar tantos enganos, a verdade escondida nas mentiras. Em qual dobra do tempo imposto durante esta pandemia ela ficou perdida? Ou estará oculta por entre as sombras? Em verdade, tomo por empréstimo o pensamento de Foucault (1926-1984): o paradigma geral segundo o qual se estruturam, em uma determinada época, os múltiplos saberes científicos, que por esta razão compartilham, a despeito de suas especificidades e diferentes objetos, determinadas formas ou características gerais [O surgimento de uma nova episteme estabelece uma drástica ruptura epistemológica que abole a totalidade dos métodos e pressupostos cognitivos anteriores, o que implica uma concepção fragmentária e não evolucionista da história da ciência.]. A quem apontar as responsabilidades face a hipérbole política difundida ou conduziram cada qual a sua maneira?! A filha da ciência está órfã, mas esquecem que ela existe para salvar vidas (Trechos da campanha “Vacina Salva”) Para a Filosofia, a ciência é um modo fundamentado em um método, o método científico. Por essa razão, o método é o modo de funcionamento das ciências, é fundamentado na observação, na experimentação e na produção de teorias e leis. As teorias são constantemente testadas, visando sua comprovação ou substituição por outra teoria que resista à checagem. O objetivo da ciência é explicar, descrever e prever os fenômenos a partir do desenvolvimento de procedimentos metodológicos que possam ser constantemente verificados e reproduzidos. Arrisco dizer ao amealhado vacinal resultou em mais uma dentre tantas dúvidas aos cidadãos brasileiros, principalmente aos estão com seus entes no estágio moribundo ou no leito de morte. A importância da ciência é algo primordial ao combate da pandemia, mas, também é importante dar sabedoria, regada de uma pitada de sensatez aos que administram nosso país, estados e municípios sobre a importância na qualidade ou na condição de algo que se encontra em condições de produzir os seus efeitos, ou seja, a validade dessas vacinas importa, assim como a vida de nosso povo! É importante dar a Cesar o que é de Cesar, entretanto, é primordial dar ao povo o que é do povo!