O Provão Paulista Seriado teve início neste ano e é destinado exclusivamente a estudantes de escolas públicas. Com a nova modalidade de ingresso disponível nas universidades públicas paulistas, o perfil dos estudantes de graduação da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP já mudou. A constatação foi feita a partir de pesquisa realizada com os ingressantes 2024 da FEA – o DataFEA -, que há quatro anos analisa as características socioeconômicas de alunos que ingressam na instituição.
Coordenado pelo professor Andres Veloso, titular do Departamento de Administração da FEA, em parceria com a Comissão de Graduação, presidida pela professora Adriana Marotti, o DataFEA ouviu 534 alunos dos 590 matriculados nos quatro cursos de graduação: Economia, Administração, Contabilidade e Atuária. Do total de respondentes, 67% são do sexo masculino e 33% do sexo feminino. Entre os que afirmaram ser LGBTQIA+, um total de 15,8% (6% gays ou lésbicas, 7,7% bissexuais, 2,1% pansexuais) e 7,4% foram classificados como “outros”, que englobam assexual, “prefiro não me classificar” ou “prefiro não responder”. Uma pessoa relatou ser não binária e nenhum dos respondentes escolheu a opção “transgênero”. Outros 15 estudantes informaram ser Pessoa com Deficiência (PcD), a maioria relacionada à visão.
O principal resultado apontado pela pesquisa deste ano sobre o total de ingressantes de baixa renda mostrou que, agrupados nas classes sociais B2+C1+C2+DE, o ingresso aumentou de 48% dos matriculados, em 2023, para 55%, em 2024. Já a parcela de novos alunos das classes A+B1 diminuiu de 52%, em 2023, para 44% este ano.
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O total de ingressantes que pertencem ao grupo PPI (Pretos, Pardos, Indígenas) passou de 20,1% em 2023 para 32% dos matriculados em 2024, representando um aumento de 12 pontos porcentuais em comparação ao ano passado.
“A adesão ao Provão Paulista aumentou o nível de inclusão de alunos de baixa renda e do grupo PPI na Fea. Isso vai exigir da faculdade um esforço maior de ações de permanência, porque mais alunos podem precisar de bolsas de estudo”, afirma Veloso ao analisar os impactos da mudança.
O docente lembra que parte das bolsas de estudo oferecidas pela USP é distribuída pelas Pró-Reitorias, como o auxílio-permanência. Mas há outros tipos de bolsas disponíveis pela ação dos próprios professores, como as bolsas do Programa Unificado de Bolsas (PUB) e do Programa de Estímulo ao Ensino de Graduação (PEEG), a partir de projetos submetidos pelos docentes.
“Para a gente ter mais bolsas desse tipo, é necessário que os professores desenvolvam mais projetos para atender uma parcela maior de alunos”, aponta. Outros tipos de bolsas proporcionadas aos alunos de baixa renda da FEA são fornecidas pela entidade Amefea. Coordenada pelo professor Guilherme Shiraishi, a iniciativa conta com o apoio de pais de alunos e do Fundo Patrimonial FEA.
DataFEA
O DataFEA foi lançado em 2021 com o objetivo de conhecer o perfil de estudantes que ingressam na faculdade, uma das graduações mais concorridas e tradicionais do vestibular da USP. A Universidade adotou o sistema de cotas sociais e raciais para os cursos de graduação a partir de 2018, medida que tem levado a uma mudança no perfil discente de forma gradual.
“A ideia do DataFEA é entender um pouco melhor o aluno, porque a gente acredita que, com a mudança do perfil dos ingressantes em função das iniciativas de inclusão da Universidade, ficou mais difícil compreender qual o impacto que essas ações das cotas sociais tiveram”, explica o coordenador da pesquisa. “Entendendo melhor o perfil do aluno, dá para desenvolver ações aqui dentro da faculdade para acolher esses alunos”, destaca.
Nesta quarta edição do DataFEA, foram abordadas questões como: quanto tempo o aluno demora para chegar à faculdade; se ele tem dificuldades com a matemática ou outras disciplinas; o nível educacional dos pais, a classe social da família, o mecanismo de entrada na faculdade; além de dados pessoais, como a idade média dos calouros, cor e raça, orientação sexual etc.
Uma das questões levantadas é se o calouro conseguiu ingressar no curso desejado inicialmente. De acordo com os organizadores da pesquisa, a resposta pode expor a intenção do aluno continuar ou não no curso. Neste ano, 57% dos respondentes da pesquisa afirmaram que entraram na FEA como 1ª opção. Outros 29% disseram que não conseguiram entrar na 1ª opção de curso, mas tentariam cursar a outra opção escolhida. Já 11% dos matriculados declararam que não pretendiam continuar, e que estavam analisando outras possibilidades.
A pesquisa revelou, também, que Economia continua sendo o curso com o maior nível de sucesso entre as opções de ingresso: 85% dos alunos matriculados em Economia queriam realmente entrar em Economia. Já 50% dos alunos da Administração optaram por esse curso em 1º lugar; 48% dos alunos de Atuária desejavam essa opção desde o início; e 37% dos matriculados em Contabilidade queriam esse curso como 1ª opção.
Classe social, raça e gênero
A idade média dos ingressantes da FEA é de 21,3 anos. Neste ano, houve ainda o ingresso de 44 pessoas menores de idade. A maioria dos ingressantes (59,9%) afirmou ser da cor branca; 32% declararam ser do grupo PPI, sendo 25,1% de pardos e 6,9% de pretos; além de 6,2% amarelos.
Do total de ingressantes em 2024 na FEA, 27,25% pertencem à Classe A; 17,03% pertencem à Classe B1; 24,05% pertencem à Classe B2; 17,84% pertencem à Classe C1; 11,42% pertencem à Classe C2; e 2,40% pertencem à Classe D-E. Um dos destaques da pesquisa é que dos 77 ingressantes via Provão Paulista, 68% eram das classes C+D+E. Já dos 66 ingressantes via Enem-USP, 34% eram das classes C+D+E. E dos 377 ingressantes via Fuvest, 24% pertencem às classes C+D+E.
A pesquisa em relação à classe social dos novos alunos foi feita baseada nos parâmetros adotados pelo Critério Brasil de Classificação Econômica. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), essa classificação é feita com base na posse de bens e não na renda familiar. Para cada bem possuído, há uma pontuação e cada classe é definida pela soma dessa pontuação.
Em relação ao tipo de escola em que cursaram o Ensino Médio, 43,8% dos respondentes afirmaram terem estudado em escola particular, sendo 42,1% em escola pública e 10,9% em escola técnica e instituto federal. Os demais estudaram no exterior, com bolsa ou em fundações como Sesi e Senai.
O DataFEA também perguntou sobre o nível educacional dos pais: 56% das mães possuem nível superior, enquanto 51% dos pais terminaram a graduação. Do total de respondentes, 11% disseram que nem o pai nem a mãe cursaram o ensino superior.
Sobre o nível de conhecimento que tinham quando ingressaram na FEA, 6,2% revelaram que tinham baixo ou muito baixo conhecimento em matemática; 6,2% em gramática; 4,5% em redação e 15,3% em inglês.
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Segundo o coordenador da pesquisa, a Pró-Reitoria de Graduação disponibilizou bolsas para a remuneração de monitores na FEA darem aulas de reforço aos alunos que manifestam dificuldades em certas disciplinas. A faculdade iniciou em maio uma disciplina optativa chamada Fundamentos de Matemática Elementar, da Pró-Reitoria de Graduação da USP, para auxiliar estudantes na disciplina.
Do total de matriculados na FEA, 85,6% já moravam no Estado de São Paulo. Mas cerca de 71 alunos (13,3%) enfrentaram o desafio da mudança de Estado: 11 (MG), 9 (RJ e BA), 6 (CE), 5 (GO), 4 (DF, PE, PR e RS), 3 (ES e MT), 2 (MS e SC), 1 (AC, AL, PB, RN e SE).
Sobre o meio de transporte utilizado para chegar à FEA, 82% afirmaram usar transporte público, 25% utilizam carro ou moto, 6% se deslocam de bicicleta, 14% a pé e 11% de carona. Em relação ao tempo que gastam para chegar à faculdade, 42% afirmaram que levam mais do que 1 hora.
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