A preocupação com o surto de sarna entre os lobos-guarás (Chrysocyon brachyurus) levou a Fundação Florestal, órgão ligado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), a realizar um trabalho especial com esses animais nas Estações Ecológica e Experimental de Itirapina. As áreas protegidas ali contemplam uns dos poucos fragmentos florestais de Cerrados, habitat desses animais, remanescentes no Estado de São Paulo, com 5.512 hectares.
Entre 2022 e 2023, o Programa MonitoraBio-SP identificou lobos-guarás acometidos pela doença a partir de armadilhamento fotográfico contínuo nas duas estações. Ainda em 2022, começaram as capturas, e alguns indivíduos foram tratados.
No mês passado, a identificação de outros oito animais da espécie com sarna elevou o nível de alerta, e a fundação acelerou o trabalho de captura. Do dia 12 de setembro, quando nove armadilhas foram instaladas em locais pré-identificados com registro de atividade da espécie, até agora, quatro dos oito animais com a doença já foram capturados por uma equipe de veterinários e biólogos especializados da ViaFauna, empresa executora do trabalho.
A fundação também estabeleceu parcerias institucionais com centros de pesquisa como a Faculdade de Medicina Veterinária da USP, Universidade Federal de Uberlândia, Instituto Butantã, Pró Carnívoros, Unisa e Universidade Federal de São Carlos.
“O lobo-guará é uma das espécies símbolo da Estação Ecológica. É um carnívoro ameaçado de extinção que encontra em Itirapina um refúgio”, diz Rodrigo Campanha, gestor das Estações Ecológica e Experimental de Itirapina.
“Apesar de usar as áreas protegidas como habitat, o lobo circula, enfrentando diversas ameaças, entre elas a sarna transmitida no contato com cães domésticos. Esse problema foi identificado pela Fundação Florestal e estamos agindo para proteger esses indivíduos”, acrescenta.
“As capturas começaram bem, mas nos chamou a atenção o fato de o terceiro lobo que capturamos já estar gravemente acometido pela doença”, afirma Ricardo Arrais, médico veterinário que coordena as ações de campo pela ViaFauna, que deverão durar 60 dias – divididos em duas campanhas com duas checagens diárias das armadilhas.
“Em todos os indivíduos aplicamos o mesmo protocolo de captura e tratamento, com coleta de amostras biológicas para entendermos melhor a saúde destes animais”, acrescenta.
Segundo Arrais, para cada lobo capturado há coleta de sangue, para perfil hematológico, a pele é raspada para confirmação do agente causador da sarna e são colhidas amostras de ectoparasitas, de tecido para análises genéticas e, finalmente, é ministrada a medicação específica. Uma vez recuperados, os animais são soltos nos mesmos locais onde foram capturados. Dos que passaram pelo tratamento até agora, quatro já voltaram ao habitat.
Carnívoros de topo de cadeia, como o lobo-guará, desempenham um papel crucial como indicadores da conservação ambiental. No entanto, é importante observar que estudos epidemiológicos que abordam o perfil sanitário dessas espécies ainda são poucos conclusivos no Brasil.
As amostras coletadas no projeto de Itirapina ganham especial importância para a ciência e para a sobrevivência da espécie. Como a sarna é transmitida por animais domésticos, o trabalho também contemplará campanhas de castração, vacinação e vermifugação de cães em Itirapina. Cartazes e folders estão sendo distribuídos em pontos comerciais da cidade de forma a disseminar informações sobre cuidados com animais domésticos e posse responsável.
“Ações como essas são fundamentais para conservação de populações saudáveis de lobos no Estado de São Paulo. Essa espécie de canídeo tem sofrido com diversos impactos – o atropelamento em rodovias e doenças transmitidas por animais domésticos tem sido considerada como uma das maiores ameaçadas para as populações de lobos. As ações realizadas pela Fundação Florestal são muito importantes para salvaguardar esses indivíduos de Itirapina – afirma Ricardo Boulhosa, presidente da Pró-Carnívoros.
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