Para combater uma pandemia como a de Covid-19 ou conter a disseminação de uma doença grave como a dengue é preciso entender a circulação e as variantes do vírus envolvido. Fornecer essas informações, imprescindíveis para a formulação de políticas públicas de saúde, é o esforço do Centro para Vigilância Viral e Avaliação Sorológica (CeVIVAS), projeto do Centro de Desenvolvimento Científico do Butantan (CDC) apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Em operação desde o final do ano passado, o CeVIVAS já está sequenciando amostras dos vírus SARS-CoV-2, DENV e influenza e acaba de lançar seu site oficial. O objetivo é municiar profissionais de saúde, cientistas, pesquisadores e a população em geral sobre a circulação e características desses vírus nas mais diversas regiões do Brasil.
O site do projeto traz informações sobre a iniciativa, suas linhas de pesquisa, os pesquisadores responsáveis, eventos e notícias, além de newsletters que serão divulgadas a cada 6 meses.
Aprendizado que veio da pandemia
Os primeiros passos para a criação do CeVIVAS foram dados durante a pandemia da Covid-19, quando a equipe liderada pela diretoria do CDC realizou mais de 50 mil sequenciamentos do vírus SARS-CoV-2 no estado de São Paulo, expondo qual era o cenário pandêmico e as novas cepas encontradas em cada região paulista. Agora, o trabalho foi estendido para envolver o acompanhamento e sequenciamento dos vírus da dengue e influenza.
“Faz todo sentido ampliar esse mapeamento para os vírus estratégicos, do ponto de vista de portifólio vacinal do Butantan. Isso vai trazer uma robustez à instituição na discussão de quais são as atualizações necessárias para as vacinas que atendem o país. Nós temos uma ligação importante com o SUS e com a saúde pública a nível nacional”, diz Sandra Coccuzzo, coordenadora do CeVIVAS.
Além do monitoramento dos vírus, o CeVIVAS também tem como missão checar se as pessoas vacinadas com o imunizante disponível estão protegidas dessas novas variantes encontradas. A análise dos sequenciamentos vai ajudar o instituto a atualizar seus produtos. “O projeto permite que o Butantan conheça, de fato, o que está circulando no país e tenha o domínio do conhecimento para poder melhorar suas vacinas”, comenta Maria Carolina Sabbaga, investigadora principal do CeVIVAS.
Atualmente, o Butantan é responsável por fornecer 80 milhões de doses da vacina da influenza ao Ministério da Saúde para a Campanha Nacional de Vacinação Contra a Gripe. Além disso, ao longo de toda a pandemia, encaminhou ao governo federal mais de 100 milhões de doses da CoronaVac, imunizante contra a Covid-19 produzido em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. Já a vacina da dengue está em desenvolvimento pelo instituto e deverá proteger contra os quatro sorotipos (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) e suas respectivas linhagens.
Mapeamento nacional
Com o apoio de laboratórios parceiros espalhados por todo o Brasil, o CeVIVAS também tem a possibilidade de fazer estudos sobre a história evolutiva dos três vírus e conhecer as variantes virais presentes nas diferentes regiões brasileiras, e suas relações com os diversos climas do país.
O compartilhamento e a transferência de conhecimento entre o centro e os laboratórios também são questões importantes para que os pesquisadores trabalhem juntos com foco na melhoria da saúde pública brasileira.
“Os laboratórios nos dão uma abrangência do que acontece no país. O CeVIVAS também ajuda e transfere esse conhecimento que a gente vem adquirindo, seja na parte técnica quando temos que preparar amostras, ou na própria identificação e discussão sobre o sequenciamento que foi encontrado”, completa Sandra.
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